Cinema Alternativo emite «Inadaptado», de Spike Jonze

Sábado, 25 De Outubro De 2003

Cinema Alternativo emite «Inadaptado», de Spike JonzeNas primeiras Quartas-feiras do mês, o Auditório Municipal da Batalha emite Cinema de qualidade reconhecida, em filmes que contam com a assinatura de alguns dos mais prestigiados realizadores.
"Inadaptado", do realizador americano Spike Jonze, é o próximo filme a ser exibido no dia 5 de Novembro, às 21h30, no Auditório Municipal da Batalha, onde se retrata a história 'semi-biográfica' de Charlie Kaufman, que se foca num escritor, cuja fama, adquirida através da autoria de um argumento de enorme sucesso, o bloqueia .

Sobre o filme "Inadaptado"

Como reagir perante um cinema que parece reduzir toda a nossa realidade a uma ambiguidade constante de espaços e tempos em permanente rotação entre o real e a ficção? Provavelmente, os mais atentos já repararam a fixação que Spike Jonze, realizador deste fascinante "Adaptation", tem sobre a necessidade do ser humano em mudar. Já era assim com a sublime e delirante parábola humana que dá pelo nome de "Being John Malkovich/Queres Ser John Malkovich?".
Se a obsessão pela mudança era vivida intensamente através dos delírios oníricos e impulsivos em "Being John Malkovich", neste "Adaptation" a coloração é bem mais negra e deprimida. Nicolas Cage, num notável papel duplo, dá corpo a uma dupla de irmãos: Charlie e Donald Kaufman. Em primeiro lugar, relembremos que Charlie Kaufman é mesmo o argumentista de "Adaptation" (assim como de "Being John Malkovich") e este filme retrata as suas dificuldades em adaptar o romance sobre orquídeas da escritora Susan Orlean (interpretada, neste filme, pela sublime Meryl Streep). Assim, o título começa por ser alusivo à própria dificuldade do argumentista em conseguir adaptar um romance às linguagens específicas do cinema. O livro, por sua vez, é sobre a adaptação constante das orquídeas ao ambiente que as rodeia, retirando assim mais uma das metáforas implícitas no título do filme. Charlie Kaufman é um argumentista em estado de profundíssima tristeza: está gordo (Cage engordou bastante para este papel), está a perder cabelo e acha-se repelente.
Lentamente, percebemos que o título do filme não é tão linear como possa parecer: é, antes, uma laboriosa e criativa alegoria ao próprio processo de adaptação que o Homem sofre ao longo da sua existência. Se P.T. Anderson fez um épico humano sobre as dimensões angulares e dolorosas do passado que nos assombra, a partir de magnólias, então Spike Jonze constrói uma prodigiosa arquitectura narrativa sobre o desencanto humano perante a sua própria estagnação e incapacidade de se adaptar ao que o rodeia, a partir de orquídeas.
Muito se discutirá sobre o papel de "Adaptation" nesta cerimónia dos Óscares (4 nomeações) e na ausência de Spike Jonze, mas tudo isto não poderá ocultar uma evidência: o segundo filme de Jonze confirma a certeza de um talento que se demarca numa marginalidade cinematográfica que vive de uma espécie de documentário de constantes ficções.

Fonte dos dados: www.7arte.net

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