José Travaços Santos: Nota Biográfica
José Travaços Santos é uma figura incontornável da cultura estremenha. Tem-se notabilizado por uma ampla e diversificada investigação histórica e etnográfica e incansável labuta em torno da defesa do Património Histórico e Cultural, em especial, do concelho da Batalha, sua terra natal.
Colaborador na imprensa nacional e regional há mais de seis décadas, publicou milhares de artigos onde, além de defender e valorizar os interesses da sua região, legou versos de notável inspiração e sensibilidade poética.
Filho de João Travaços Mendonça Santos e de Celeste Honorato Gomes Travaços Santos, nasceu na Batalha a 25 março de 1931. De 1937 a 1941 frequentou a escola primária da Batalha, onde completou a quarta classe. Posteriormente, ingressou no Liceu de Leiria; no entanto, uma pleurisia afastou-o dos estudos durante seis meses. Depois, foi para o Externato D. Dinis, que tinha como diretor o monsenhor António Borges. Em 1949, aos 18 anos, muda-se com a família para Lisboa, completando o 7º ano no colégio Olisiponense. Na capital, o seu primeiro trabalho foi como estagiário na Gulbenkian, nas bibliotecas itinerantes, e viria a trabalhar na Cadeia Central, como técnico de orientação escolar e social (perceptor), acabando por se transferir para a prisão de Leiria, dezasseis anos depois de deixar a vila que o viu nascer.
É autor das seguintes obras: Para Uma Emancipação Económica e Social (1962); Monólogo do Lavrador (1967); Minha Nau, ‘Inda Pinhal (1968); Vamos Fundar uma Cooperativa (1969); Alguns aspetos da etnografia do Concelho da Batalha: trajo, ofertas, instrumentos musicais, casas de habitação (1980); Rancho Folclórico Rosas do Lena: Cancioneiro da Alta Estremadura (2001); No Princípio era o Verbo (2003); Senhora do Ó (2005); Etnografia da Alta Estremadura – breve introdução (2007); Gesta (2008); Guarda Livros (2011); Círio (2015); (Coord.) Cadernos da Vila Heroica – Arquivo Histórico, Etnográfico, Artístico e Literário do Concelho da Batalha (1971, 1973, 1976, 1980, 1984 e 2001) e Apontamentos para a História da Batalha, três volumes, (2006, 2008, 2021).
Testemunhos
José Travaços Santos é o paradigma da humildade, da simpatia e da simplicidade. A sua cortesia nobre para com os outros deixa-nos rendidos ao seu saber. A forma digna como trata a História no púlpito da nossa identidade, como povo, é o exemplo da sua missão nobre e digna de expressar o seu conhecimento embebido de sentimentos e emoções.
Quando se fala do “seu” Mosteiro ou de Etnografia, os seus olhos brilham e a voz ergue uma dicção díspar.
Adélio Amaro // Presidente do Centro do Património da Estremadura
José Travaços dos Santos, nome que na Batalha significa Cultura, Conhecimento, Dedicação e Generosidade!
Uma vida dedicada à investigação e estudo do Património da Batalha e da região, faz dele um dos maiores conhecedores da sua História.
Amante da escrita, com vários livros editados e inúmeros textos de opinião expressos na Comunicação Social, é igualmente um dos fundadores do prestigiado Rancho Folclórico Rosas do Lena e grande impulsionador da Casa Museu da Madalena, projeto que abraçou com profunda generosidade e entrega.
José Travaços deixa para memória futura um imenso legado nesta região do qual constam tradições, usos e costumes das suas gentes, entre outros....
Qualquer adjetivação dos seus predicados será sempre insuficiente para retratar este Ser Maior que tal como é apanágio dos grandes é discreto e reservado.
É uma enorme honra fazer parte desta singela homenagem tão merecida e tão devida.
Raul Castro // Presidente da Câmara Municipal da Batalha
Há personalidades que marcam o seu tempo. O Sr. José Travaços tem marcado o tempo longo de uma vida dedicada à cultura, intransigentemente vivida por ideais humanísticos, que não deixaram e deixam indiferentes todos os que conheceram e conhecem.
Do Sr. José Travaços não falamos só de estudos e memória. Falamos de ação. Foi dos poucos que se opôs à construção nos anos 60 da Estrada Nacional nº 1, frente ao Mosteiro, bem como da destruição, também na década de 60, e com grande mágoa sua, do que restava da Capela de Santa Maria a Velha, mandada erguer pelos primeiros construtores do Mosteiro. Porque a sua consciência patrimonial estava além do seu tempo.
E após a revolução de abril de 1974, ainda poucos o saberão, vendo o estado de desleixo a que estava votado o Mosteiro, escreveu ao general Ramalho Eanes e a sua carta motivou a vinda de responsáveis e, pouco depois, a colocação, como diretor, do Dr. Sérgio de Andrade, ainda hoje recordado, por todos que o conheceram, como uma personalidade ímpar.
O seu amor ao Mosteiro, cuja visão imponente tem ocupado o seu olhar, na casa onde mora, anos a fio, diariamente, hora a hora, está a par do conhecimento profundo da sua História e das gerações de famílias que com ele se relacionaram, fora e dentro, das inúmeras gentes que ali trabalharam, viveram e brincaram.
Joaquim Ruivo // Diretor do Mosteiro de Santa Maria da Vitória
José Travaços dos Santos é o exemplo de uma vida dedicada ao seu torrão natal, a sua querida Batalha, e ao monumento que a celebrizou, bem como às gentes do concelho, aos seus costumes e tradições, à sua maneira de viver e aos variados aspetos da ruralidade local, tudo temas que estudou e analisou na sua vasta bibliografia. A sua ligação e empenhamento na actividade do Rancho Rosas do Lena foram fundamentais para a projecção nacional e internacional deste agrupamento, que continua a divulgar preciosamente as tradições músico-coreográficas da região.
José Alberto Sardinha // Etnomusicólogo
José Travaços Santos encarna plenamente o modelo perfeito de animador cultural da Alta Estremadura, e é-o no perfeito sentido da palavra, o de uma alma genuína e fecunda que devotou toda a sua vida ao conhecimento da história e da cultura popular portuguesa e ao serviço da comunidade e do próximo. Na sua vida profissional, enquanto técnico que acompanhou jovens em períodos de reclusão e de reorientação das suas vidas, enquanto jornalista e colaborador da imprensa local e nacional, sempre pro bono, enquanto dinamizador da fundação do Rancho Rosas do Lena e de tantos outros nesta região, assim como enquanto apoiante das causas de numerosas associações culturais da região, enquanto rosto de cidadão que ciceroneou a procura dos caminhos da nossa identidade regional e local, e finalmente enquanto batalhense e leirenense, José Travaços Santos é um homem sempre próximo e disponível para acolher e ajudar os que procuram conhecer o passado e as raízes autênticas do povo da região que somos.
Gerações de concidadãos, estudantes, animadores culturais e curiosos, reconhecerão a justiça destas palavras, mas também a sua insuficiência para descrever, com verdadeira justiça, a grandeza do legado humano, cívico e cultural de José Travaços Santos, pedagogo, historiador, escritor, fiel de projetos, de vidas e de sonhos. Batalha, Leiria e aquele Portugal, cujo destino somos, todos lhe devemos muito. Não que José Travaços Santos espere retornos de merecida gratidão, de honrarias e de louvores; sempre viveu, todos o reconhecerão, nas margens do rio do bem-fazer sem olhar a quem, vestindo o traje daqueles antigos mendicantes que se doaram inteiramente a missões divinas e difíceis de amor ao próximo, fazendo o bem, ensinando a palavra e o amor ao Povo português, nobre e heroico, que tanto o define.
Saul António Gomes // Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra